Em 15 anos de profissão, a seleção que eu mais acompanhei, disparado,
foi a de Carlos Alberto Parreira no ciclo 2003-2006. Não
necessariamente durante aquela Copa da Alemanha, mas durante o ciclo
todo, amistosos, Copa das Confederações etc. Parreira tinha um modelo de
time em sua cabeça. Um volante fixo e dois volantes-meias que ajudassem
na marcação e também na criação de jogo. Na Copa, o desenho tinha
Emerson, Juninho Pernambucano e Zé Roberto.
A pressão popular (da
imprensa??), no entanto, foi mais forte. Só se falava em quarteto,
quarteto, quarteto. Não bastavam Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo à
frente dos três. A exigência do “bom futebol” era por mais um. Na Copa
das Confederações de 2005, jogou o tal quadrado mágico – com Robinho e
Adriano, já que Ronaldo não foi para a competição. Foi o melhor momento
da seleção de Parreira, mas ainda assim ele insistia com o triângulo no
meio. Sabia que era o sistema mais equilibrado.
Em todas,
absolutamente todas as discussões sobre a formação ideal do time, quem
caía fora era Zé Roberto. “Bota o Adriano e tira o Zé Roberto”. “Bota o
Robinho e tira o Zé Roberto”. “Bota o Gilberto Silva e tira o Zé
Roberto”. “Bota o cone e tira o Zé Roberto”. Qualquer que fosse a
situação, ele era o “escolhido” da mídia e da torcida para deixar o
time.
São fáceis, as explicações. Zé Roberto só havia jogado no
Brasil na Portuguesa, passando rapidamente, e sem sucesso, pelo
Flamengo. Depois, “sumiu”. Sumiu para quem só olha para o próprio
umbigo. Zé Roberto é um dos jogadores de futebol mais completos que já
vi jogar em toda a minha vida e, como tal, brilhou por onde passou na
Europa. Quem acompanhou, sabe o respeito que adquiriu por lá. Como
craque que é, até hoje, inclusive, foi, disparado, o melhor jogador do
Brasil naquela Copa-2006. Talvez o único que tenha se salvado na
campanha.
Aí ele veio pro Santos. E aí, finalmente, crítica e torcida passaram a conhecê-lo e reconhecê-lo. “Descobriram” o Zé Roberto.
Por
que conto essa curta história? Porque me parece que, hoje, Hulk está
virando o Zé Roberto de Felipão. Poucas pessoas sequer viram qualquer
jogo, vejam bem, UM JOGO, do Hulk fora da seleção brasileira. E, em
qualquer análise que se faça, em qualquer uma, qualquer torcedor e
maioria esmagadora dos jornalistas, é exigida a saída de Hulk do time.
Oras.
Quem analisar com um mínimo de bom senso saberá que Hulk fez, até
agora, um jogo ruim e três belíssimas partidas com a seleção de Scolari.
Foi bem mal contra a Itália, em Genebra. Mas mudou o jogo contra a
Rússia, em Londres, e teve ótimas atuações contra Inglaterra e França. É
um jogador de força, de velocidade, que aporta elementos interessantes
para quebrar retrancas – como o chute forte a gol – e que defende bem.
Tem uma consciência tática de fechar espaços que Oscar, por exemplo,
tem, mas que Neymar e Lucas, por exemplo, ainda não têm. E Fred
dificilmente terá.
Muito pedem Lucas no time. Eu acho lícito. Dou
uma lista inteira de razões pelas quais Lucas deva jogar no lugar de
Hulk. E dou outra lista inteira de razões pelas quais Hulk deva ser o
titular. No fim, tudo depende da maneira como o técnico quer jogar.
Agora, por que se fala tanto de tirar Hulk do time e não de Neymar??
Neymar
não jogou bem ainda com Felipão. Em nenhum momento. Nenhum jogo. No
clube, vivia uma seca gigante de gols e bom futebol. Podem haver várias
razões para a má fase de Neymar, desde desgaste físico até mesmo a
pressão de ser o jogador número um do país, a novela da transferência.
Mas, dado o fato de Neymar não estar jogando nada há meses, será que ele
precisa mesmo estar no time? Por que é absurdo falar que Hulk fez por
merecer ser titular na Copa das Confederações e Neymar, não?
Eu
entendo completamente a escalação dos dois. E, acho, se estivesse
sentado no lugar de Scolari, que eu faria o mesmo (apesar da má fase do
neo-culé). A bola que levanto aqui é: por que um tratamento tão
diferente? Por que Neymar é intocável para quem analisa e Hulk é sempre o
primeiro na fila da guilhotina?? Acho injusto, irresponsável e
equivocado. É lícito querer Hulk fora do time. Não é lícito, no entanto,
criticar um jogador porque não conhece seu jogo, nunca passou por um
time grande do Brasil e não tem o carisma/mídia de outros.
No jogo
contra a França, Scolari encontrou seu time titular, com Marcelo (muito
bem) no lugar de Filipe Luis. Tenho certeza, no entanto, que Felipão
gostou mais do jogo da Inglaterra do que o de hoje. Aquele foi um empate
injusto, em um jogo que o Brasil teve volume e criação. A vitória de
hoje foi bastante enganosa pelo futebol não apresentado.
Repito,
nunca deixarei de repetir. Futebol não pode ser analisado somente por
resultados. Não podemos viver na dinâmica do “ganhou, está bom”,
“empatou ou perdeu, está ruim”. O Brasil ganhou, mas não jogou bem. O
primeiro tempo foi lamentável, sem conseguir fazer nada diante do bom
sistema defensivo de Deschamps. No segundo tempo, o gol muda tudo. E o
gol sai de um lance irregular (falta de Luiz Gustavo).
A França
estava adormecida e, com a tranquilidade do placar , o Brasil cresceu. O
grande mérito do time foi buscar a vitória, percebia-se facilmente no
campo um time que buscava e outro que sonhava (com as férias). Num
contra ataque, saiu o segundo gol. Depois, o terceiro, de pênalti.
Felipão está testando e aprendendo sobre seu time, mas sabia que uma
vitória era importante para dar moral e tranquilidade. Ela veio.
Novamente,
o treinador testou uma formação diferente. Com um volante mais fixo
(Fernando) e dois volantes-meias mais avançados (Luiz Gustavo, depois
Hernanes, e Paulinho). Paulinho joga como joga no Corinthians porque tem
um volante atrás e dois laterais que quase não avançam. Na seleção, com
dois laterais que sobem muito, Paulinho tem de ficar na marcação. E aí,
ele não é ele. Ou tem de sair do time ou tem mesmo que jogar no sistema
de triângulo do meio de campo, ao lado de Hernanes e com Fernando ou
Luiz Gustavo atrás na proteção.
Se bem conheço Luiz Felipe
Scolari, ele está gostando bastante do sistema com três homens que deem
sustentação ao meio de campo e tranquilidade aos laterais. Usará como
variação em todos os jogos, se é que não oficializará como o sistema
principal. E aí? E se Luiz Gustavo, Hernanes e Paulinho estiverem juntos
no time titular? Quem sai? Será mesmo que tem que ser Hulk? Ou há outro
destoando ali no quarteto da frente? Será que podemos, ao menos,
discutir Neymar??
PS – antes do massacre, chamo atenção para o
título deste post. Não digo que Hulk jogue mais bola que Neymar. Digo
que Hulk está jogando melhor. Não é uma discussão sobre quem seja melhor
e, sim, quem esteja melhor às vésperas de uma competição ofi
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