quinta-feira, 20 de junho de 2013

A visão de quem não vê: enquanto Neymar brilha, funcionários trabalham


Eles não gastam um tostão, têm acesso livre a setores privilegiados, restritos e caros dos estádios da Copa das Confederações, ajudam a preparar o espetáculo, mas não conseguem aproveitá-lo. Uma turma que conta com quem faz a manutenção do campo, seguranças, garçons, cozinheiros, auxiliares de serviços gerais. Todos vivem, de um ângulo diferente, o clima da competição. Não precisam comprar ingressos, mas pagam um preço: o de estarem tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Nesta quarta-feira, a reportagem do GLOBOESPORTE.COM acompanhou o jogo entre Brasil e México, pela segunda rodada do Grupo A, em Fortaleza, do ponto de vista de quem está no local, mas praticamente não vê a partida. Enquanto 50.791 pessoas curtiram a vitória por 2 a 0, eles só puderam imaginar os gols de Neymar e Jô.
Os senguranças, por exemplo. Só alguns passos os separam do gramado, da bola e dos jogadores. Mas parecem quilômetros. Estáticos, têm a ordem de permanecerem assim durante os 90 minutos e até no intervalo. Olhos fixos na torcida e a qualquer movimento estranho. Mãos cruzadas para trás ou nos bolsos da frente da camisa do uniforme. No golaço de Neymar, aos nove minutos do primeiro tempo, a maioria resistiu e sequer olhou para o campo. Mas houve quem desse aquela espiadinha de canto de olho, com sorriso preso entre os dentes. Enquanto isso, bem perto deles, a torcida explodia na Arena Castelão.
- Quado a torcida começa com “ahhhh”, o cara vira e vai ver o que é. Fica de butuca e vê o que está acontecendo. Não pode conversar, sentar, nada. Tem que ficar parado, olhando para a torcida. O procedimento é esse. Não fico chateado. A gente está aí para trabalhar, fizemos curso de vigilante, tivemos a oportunidade. Aqui está bom. É a primeira vez que entro no novo Castelão, ficou bonito mesmo – disse um dos seguranças.garçom área vip estádio castelão  (Foto: Richard Souza)
Nos camarotes e lounges, espaço, conforto e visão central do campo. Privilégio para quem pagou caro para assistir ao jogo dessas áreas. Cozinheiros e garçons circulam por ali incontáveis vezes durante a partida, mas nada de ver a cor da bola.
- Minha função aqui é servir as bebidas. Não dá para ver o jogo não, não pode. Só pode parar para ir ao banheiro. Não pode olhar para o campo, é a orientação. Durante os 90 minutos não pode olhar para o campo – contou o garçom Osvaldo Soares.
Enquanto prepararam drinks para o público dos camarotes, Bruna e Thiago sofrem. A alguns metros, a porta de vidro é um convite para acompanhar o andamento do jogo. Mas o acesso é restrito, e o sofrimento, gigante.
- Acho triste (risos) – brincou Brunaseguranças voluntários jogo Brasil e México  (Foto: Richard Souza)
Fanático por futebol, Thiago Oliveira tenta dar seu jeito. Enquanto mistura sucos de frutas e vodka, estica o pescoço e deixa olhos e ouvidos alertas.
- É uma oportunidade legal porque é para poucos, mas ao mesmo tempo é sentido para quem gosta, principalmente para mim, que gosto muito, não poder ver. Muita gente fica brincando que quem trabalha aqui (na área dos camarotes) vai querer toda hora pegar copo para ver o jogo (risos) – contou.
Há quem tenha mais liberdade. O montador Alex Alexandre, por exemplo, chegou cedo ao Castelão na manhã desta quarta para trabalhar e tinha credencial para assistir à partida na área da torcida. Enquanto fazia a manutenção de um dos camarotes, aguardava a hora de ver Neymar em ação.
- Vejo lá embaixo. Durante o jogo, se for chamado, saio para fazer algum reparo. Mas tem muita gente na minha função, não vai ter problema (risos) – comemorou.funcionários jogo Brasil e México  (Foto: Richard Souza)

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